
Após uma década explorando cozinhas pelo mundo, María Belén Borda retorna à Bolívia com um olhar refinado e uma bagagem de experiências que moldaram sua identidade como chef. Natural de Tarija, Belén se prepara para abrir seu primeiro restaurante autoral e compartilhou detalhes dessa jornada em uma conversa reveladora.
Da infância em Tarija ao despertar para a gastronomia
O amor pela cozinha começou cedo, influenciado por sua tia Charito, uma cozinheira talentosa. Apesar do sonho inicial de cursar arquitetura, Belén ouviu o chamado da gastronomia ainda no ensino médio, mesmo enfrentando a resistência dos pais, que viam a carreira de cozinheira como algo improvável para a pequena cidade de Tarija.
Buenos Aires: onde tudo começou profissionalmente
Determinação não faltava. Belén insistiu e foi estudar no renomado Ott College, em Buenos Aires. Durante os três anos de curso, fez questão de ultrapassar as exigências práticas do currículo, aproveitando o tempo livre para se aperfeiçoar em hotéis e restaurantes de alto nível. A experiência foi fundamental para sua base técnica e disciplina profissional.
Uma carreira global construída com dedicação
Após os estudos, Belén embarcou numa jornada internacional. Conseguiu um cargo como chef confeiteira no Hilton da Carolina do Sul, nos Estados Unidos, onde se destacou a ponto de ser eleita funcionária do ano. Em seguida, foi para a Austrália trabalhar com o grupo Intercontinental, onde teve contato com sabores asiáticos que despertaram ainda mais sua curiosidade culinária.
Essa curiosidade a levou a uma viagem de quatro meses por países como China e Tailândia, explorando escolas, mercados, cozinhas rurais e ingredientes pouco conhecidos na Bolívia. Foi nesse momento que percebeu o potencial dos produtos bolivianos e decidiu voltar para casa.
De volta à Bolívia: pesquisa, ensino e propósito
De volta a Tarija, Belén se envolveu com projetos de pesquisa gastronômica junto a fundações rurais e ministrou aulas online. Segundo ela, a convivência com comunidades camponesas foi transformadora. "As pessoas te recebem com tudo o que têm, mesmo sendo pouco. Isso mudou minha forma de ver a vida e o meu papel como cozinheira", diz.
Além disso, fez um estágio na Dinamarca que consolidou sua percepção sobre excelência culinária. “Eu já tinha viajado e estudado, era hora de aplicar tudo isso na minha terra”, afirma.
Novos planos: restaurante próprio e gastronomia de verdade
O próximo passo na carreira de Belén será a abertura de seu próprio restaurante, previsto para janeiro ou fevereiro. O espaço, localizado na Rua Colón, próximo à Plazuela Sucre e à Praça Principal, funcionará como café durante o dia e restaurante à noite.
O cardápio será sazonal, com receitas que valorizam ingredientes frescos e locais. “Quero mostrar que com os produtos do nosso mercado, podemos criar pratos incríveis. Não precisamos de ingredientes importados para oferecer alta gastronomia”, destaca.
Gastronomia com propósito
Mais do que técnica ou experiência internacional, Belén acredita que sua maior transformação foi espiritual. “Conheci Deus, e isso mudou tudo. Aprendi a ser uma boa cozinheira, mas acima de tudo, uma boa pessoa.”
Seu novo restaurante, ainda sem nome definido, será o reflexo dessa filosofia: simplicidade com excelência, respeito aos ingredientes locais e um olhar humano para cada prato servido. “Quero que as pessoas sintam o sabor da verdade, da nossa terra, do que realmente somos.”